O chanceler Mauro Vieira se reúne nesta quinta-feira (16), em Washington (EUA), com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para discutir a aplicação de tarifas sobre produtos brasileiros. O encontro, confirmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira (15), é visto como um passo preparatório para uma reunião bilateral entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevista para o fim do mês, durante a Cúpula da Asean, na Malásia.

Vieira está em Washington desde segunda-feira, após o encontro ter sido marcado durante uma ligação de 15 minutos entre os dois ministros. A negociação busca abrir caminho para redução das taxas impostas ao Brasil, que vêm afetando fortemente as exportações para o mercado norte-americano.
Durante um discurso no Rio de Janeiro, na abertura do sistema de solicitação da Carteira Nacional Docente do Brasil (CNDB), Lula comentou o diálogo com Trump.
“Ele me ligou, e eu falei: ‘Presidente, eu queria estabelecer uma conversa sem liturgia…’. Não pintou uma química, pintou uma indústria petroquímica. Amanhã vamos ter a conversa de negociação”, disse o presidente, em tom bem-humorado.
O primeiro contato direto entre Lula e Trump ocorreu em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Desde então, ambos vêm sinalizando uma reaproximação diplomática, após meses de tensões marcadas por sanções dos EUA a autoridades brasileiras e uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor há 50 dias, afetando 73,8% das vendas ao mercado americano.
Contudo, às vésperas do encontro, autoridades dos Estados Unidos voltaram a fazer críticas ao Judiciário brasileiro. Em coletiva de imprensa, o representante comercial americano, Jamieson Greer, afirmou que as tarifas estão ligadas a “preocupações com o Estado de Direito, censura e direitos humanos no Brasil”. Já o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mencionou “detenção ilegal de cidadãos americanos” no país.
O governo brasileiro tenta negociar a remoção das tarifas ou, ao menos, ampliar a lista de exceções, atualmente com mais de 700 produtos. Entre os mais afetados estão café e carne bovina, que tiveram forte aumento de preço nos Estados Unidos, gerando pressão de empresários americanos sobre o governo Trump.
Do lado norte-americano, há interesse em discutir acordos sobre exploração de terras raras e redução de taxas sobre o etanol exportado pelos EUA. Há também expectativa de que o governo Trump pressione o Brasil a se distanciar do Brics e dos planos de criação de um sistema de comércio independente do dólar, pauta que o Brasil afirma não pretender discutir no âmbito político.
As negociações são conduzidas, do lado brasileiro, por Mauro Vieira, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — que, inicialmente, planejava viajar a Washington na próxima semana, mas cancelou a ida após a derrota do governo na votação da MP 1.303, relacionada à arrecadação via IOF.
O desfecho da reunião entre Vieira e Rubio poderá indicar o tom da esperada reaproximação entre Brasília e Washington, que não mantêm diálogo de alto nível desde o início do governo Trump.

