Manguezais da Amazônia: gigantes do carbono que protegem o litoral brasileiro

Com árvores que chegam a até 30 metros de altura e raízes mais altas que um ser humano, os manguezais amazônicos são gigantes ambientais. Esse ecossistema, que cobre cerca de 14 mil km² ao longo da costa brasileira, é responsável por reter três vezes mais gás carbônico da atmosfera do que florestas de terra firme, funcionando como potentes sumidouros de carbono.

A maior parte dessa cobertura está nos estados do Maranhão (36%), Pará (28%) e Amapá (16%), que juntos abrigam o maior território contínuo de manguezais protegidos por lei no mundo, com cerca de 12 mil km² em 120 unidades de conservação, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Projeto Mangues da Amazônia

No nordeste do Pará, o projeto Mangues da Amazônia, coordenado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e patrocinado pela Petrobras, trabalha junto às comunidades locais para mapear, reflorestar e monitorar áreas de mangue nos municípios de Bragança, Viseu, Tracuateua e Augusto Corrêa. A iniciativa já recuperou 14 hectares de mangue entre 2021 e 2022 e, até 2026, deve reflorestar outros 17 hectares.

Segundo o coordenador do projeto, o professor Marcus Fernandes, a atuação vai além da recuperação ambiental. “Vamos nas comunidades, identificamos áreas de corte ilegal, fazemos o georreferenciamento com ajuda dos moradores e produzimos mapas que são entregues a prefeituras e associações locais”, explica.

Além do mapeamento participativo, o projeto realiza pesquisas genéticas das espécies de mangue – como o vermelho, o preto e o branco – para garantir plantios mais resilientes e adaptados às mudanças climáticas.

“Escolhendo sementes com maior variabilidade genética, formamos florestas mais fortes para o futuro”, afirma Fernandes.

Ecossistema vital sob ameaça

A extração de madeira e a captura de caranguejos não são ilegais nas reservas extrativistas (Resex), mas exigem autorização do ICMBio. No entanto, a fiscalização precária permite atividades clandestinas, como o corte de madeira em áreas não autorizadas, principalmente para produção de carvão.

“Eles informam que vão cortar em um lugar, mas exploram outro. A madeira ainda é vendida para padarias, olarias e outros comércios locais”, diz Fernandes, alertando para o risco de degradação acelerada sem controle efetivo.

Outro desafio vem das mudanças climáticas. A redução das chuvas – de 3.000 mm anuais para cerca de 2.000 mm – ameaça a capacidade do solo encharcado dos mangues de reter carbono.

“Com menos água, o solo seca, entra oxigênio e os gases poluentes voltam à atmosfera”, explica o professor Hudson Silva, responsável pelo monitoramento das emissões.

Biodiversidade e valor social

Os manguezais amazônicos são abrigo para caranguejos, moluscos, aves como guarás e garças, peixes e até mamíferos. O projeto realiza censos de fauna com ajuda de moradores, contabilizando machos, fêmeas, tamanhos e pesos de espécies como o caranguejo-uçá.

“É preciso um diagnóstico claro para orientar o uso sustentável”, diz Fernandes.

Além da relevância ambiental, o projeto tem impacto social. De acordo com a Petrobras, a cada R\$ 1 investido, o retorno estimado para a sociedade é de R\$ 7.

“Queremos levar valor para os territórios onde atuamos e contribuir para o desenvolvimento sustentável do país”, afirma Sue Wolter, gerente de Direitos Humanos da Petrobras.

O gestor do projeto, John Gomes, destaca a importância de dar visibilidade aos manguezais amazônicos. “Quando se fala em Amazônia, normalmente se pensa na floresta, mas os manguezais precisam entrar nesse debate. Eles são parte essencial da proteção ambiental do país”.

Com a força da ciência, o envolvimento comunitário e o apoio institucional, o projeto Mangues da Amazônia mostra como é possível aliar preservação, conhecimento e desenvolvimento social, garantindo um futuro mais equilibrado para o litoral brasileiro