Pessoas com maior compreensão de leitura e escrita apresentam, em geral, mais facilidade para lidar com tarefas no ambiente digital — como comprar online, trocar mensagens, enviar fotos ou preencher formulários. No entanto, mesmo entre os brasileiros considerados alfabetizados proficientes, 40% demonstram apenas desempenho digital médio ou baixo.
Os dados são do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nesta segunda-feira (5), que pela primeira vez incluiu o alfabetismo digital em sua análise. A pesquisa, que mapeia as habilidades de leitura, escrita e matemática da população, ouviu 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, em todas as regiões do país, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
Para avaliar o nível digital, os participantes realizaram tarefas simples no celular, como comprar um par de tênis a partir de um anúncio em rede social ou se inscrever em um evento via formulário online. A partir dessas atividades, foram classificados em três níveis de alfabetismo digital: baixo, médio ou alto.
Os resultados mostram uma correlação entre o grau de alfabetismo funcional e o desempenho digital:
- 95% dos analfabetos funcionais ficaram no nível baixo de alfabetismo digital.
- Entre os que estão no nível elementar, 67% têm desempenho médio no ambiente digital.
- No nível mais alto, o proficiente, 60% alcançaram desempenho alto, mas 37% ficaram no médio e 3% ainda no baixo.
Para Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú, os dados servem de alerta. “As habilidades digitais são fundamentais para garantir o acesso a serviços, como marcar consultas, usar o Pix ou acessar programas sociais. Se a pessoa não tem essa habilidade, ela fica excluída até de políticas públicas”, afirma.
O levantamento também mostrou que os mais jovens se saem melhor no teste digital. Na faixa de 20 a 29 anos, 38% estão no nível mais alto de desempenho, seguidos pelos adolescentes de 15 a 19 anos (31%).
Segundo Roberto Catelli, coordenador da Ação Educativa, o estudo confirma que as desigualdades educacionais são reproduzidas no mundo digital. “Não basta promover apenas o letramento digital. As mesmas pessoas com baixa escolaridade são as que enfrentam mais barreiras de acesso no ambiente online”, destacou.
O Inaf é realizado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. A edição de 2024 foi correalizada pela Fundação Itaú em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unicef e Unesco. O levantamento tem margem de erro entre dois e três pontos percentuais e um intervalo de confiança de 95%.

