Três iniciativas estratégicas anunciadas pelo governo federal nos últimos dias consolidam o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis) programa central da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial lançada em janeiro de 2024. As medidas buscam ampliar a produção nacional de medicamentos, vacinas, dispositivos médicos e tecnologias de saúde, e reduzir a dependência externa do Sistema Único de Saúde (SUS).
Durante cerimônia realizada em Montes Claros (MG), com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a multinacional dinamarquesa Novo Nordisk anunciou um investimento de R$ 6,4 bilhões no Brasil. A farmacêutica, fornecedora do SUS de insulina e medicamentos para hemofilia, pretende expandir a produção de tratamentos injetáveis para obesidade, diabetes e doenças crônicas.
Atualmente com 2.650 empregos diretos e indiretos, a empresa projeta a criação de mais 600 postos de trabalho com a ampliação das operações.
No mesmo dia, uma parceria entre o BNDES, a Finep e a Fundação Butantan anunciou a criação de um fundo de investimento de pelo menos R$ 200 milhões voltado para micro, pequenas e médias empresas inovadoras no setor de saúde.
O objetivo é fomentar startups e negócios com alto potencial tecnológico, contribuindo com a fortalecimento da cadeia produtiva do SUS. Os aportes serão distribuídos da seguinte forma:
- BNDES: entre R$ 50 milhões e R$ 125 milhões
- Finep: até R$ 60 milhões
- Fundação Butantan: ao menos R$ 50 milhões
Também foi destacada a ampliação do financiamento a empresas fornecedoras do SUS, como uma fábrica em Aparecida de Goiânia (GO) que produz stents farmacológicos, cateteres e fios guias para procedimentos cardiovasculares. O foco é reduzir a importação de itens essenciais para o atendimento hospitalar.
A Fiocruz, por meio do Instituto Bio-Manguinhos, é uma das principais beneficiárias da Missão 2 da Nova Indústria Brasil. Em construção no Rio de Janeiro, o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde terá capacidade para produzir até 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano.
O projeto receberá R$ 2 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nos próximos quatro anos, com expectativa de captar R$ 4 bilhões adicionais em investimentos privados. A Fiocruz também desenvolve uma vacina nacional de RNA mensageiro contra a covid-19, atualmente em fase pré-clínica.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) estima que os investimentos públicos e privados na Missão 2 da NIB já ultrapassam R$ 57 bilhões. A meta é ambiciosa: elevar a produção nacional de insumos de saúde dos atuais 45% para 70% até 2033.
“O SUS é um grande comprador de tudo o que a gente fabrica aqui”, afirmou Lula, destacando a importância do setor na retomada industrial do país.
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor da saúde representa cerca de 10% do PIB nacional e concentra mais de 30% dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Cada R$ 1 milhão produzido na indústria farmacêutica gera, em média, R$ 2,46 milhões em valor bruto da produção, segundo a entidade.
O presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, defendeu que os incentivos ao Complexo da Saúde devem ser tratados como política de Estado, com regras claras e estáveis.
“O setor farmacêutico é estratégico para a promoção da saúde e também para o desenvolvimento econômico do país”, disse.
Com as novas ações, o governo aposta em um modelo que alia saúde pública, soberania tecnológica e dinamismo industrial, reforçando a importância do Ceis como motor de desenvolvimento sustentável e estratégico para o Brasil.

